Desde sempre que ele vai vendo ela como uma rapariga normal. Ele aprecia cada traço dela sem dando importância. Não liga quando ela chega perto dele e envergonhada, lhe pede um abraço apertado. Ele não está interessado de todo naquilo que ela está a pretender. Mas um dia, ela tem que ir embora. Ela tem que deixar tudo, escola, amigos, até mesmo ele. Torna-se complicado para ela, porque ela precisava dele por perto para se manter firme, para se aguentar quando surgissem problemas, e agora ela simplesmente tinha que ir. 
Numa tarde, ela combinou estar com ele, num local calmo, onde tinham passado bons momentos juntos. Ele tentou arranjar mil desculpas, mas ela disse-lhe que se não fosse naquele dia, não seria mais nenhum. E aí, ele foi! Quando chegou, ele olhou para ela, e perguntou o que se estava a passar. As lágrimas começaram a surgir nos olhos dela, ela estava frágil, sem forças para falar sobre tal assunto. E ele abraçou-a pela primeira vez, sem ela pedir. É tão difícil falar para quem amamos. Era amor, não poderia ser outra coisa. Ela contou-lhe, e ele quis ir embora naquele momento. Disse que não acreditava que ela estaria a mentir para ele daquela maneira, de todo ele queria que aquilo acontecesse. Ela deixou-o ir. 
Dias mais tarde, ele dirigiu-se a sua casa. Assim que chegou, a mãe dela abriu-lhe a porta. Ele perguntou por ela, e a mãe disse que ela não estava. E aí o coração dele apertou. O medo dela se ter ido embora, começou a crescer. Ele virou costas e começou por lhe telefonar. Ela não atendia. Ele ligou para todos os amigos que tinham em comum, procurou por ela na escola, na casa da melhor amiga, até que chegou a sua casa. Estava cansado, perdido, não conseguia pensar em nada, só queria encontrar de novo o olhar da Mulher mais linda do seu mundo, a Mulher que conseguia por os seus dias a brilhar, e com a maior alegria que ele tinha visto até hoje. Será que ele a tinha perdido? Entrou dentro de casa. Subiu as escadas, foi em direção ao seu quarto. Em cima da sua cama estava uma carta:

 "Gostava que soubesses que és quem mais preservei durante imenso tempo. Gostava que lesses esta carta, e que a guardasses como guardaste o meu coração, sem dares conta. Nos dias em que estava frio, tu abraçavas-me todas as vezes que te pedia. Nas datas especiais nunca te esqueceste de mim. Os passeios que davas comigo, só para me arrancares de casa, usando a desculpa de que precisavas de companhia para apanhares ar fresco. Todas as piadas que dizias para me pôr a rir. Quando íamos sair, e eu ficava mais alegre do que o normal, e tu cuidavas sempre de mim. Quando me abraças-te pela primeira vez sem eu te pedir. Quando me disseste o primeiro "adoro-te". Tudo isto, mostra o bom Homem que és. Mostra o esforço que fizeste para dares amor a uma rapariga que nunca teve coragem de admitir que te amava mais do que qualquer pessoa. Espero que um dia me possas perdoar pela minha partida. Pela minha desistência. Perdoa-me pela minha maneira de ver as coisas, e peço-te que compreendas que não consigo estar perto de ti, se não te posso ter do meu lado. Nunca te esqueças de mim..."

Ele não queria acreditar no que estava diante dos seus olhos. De repente, sentou-se e uma lágrima escorreu-lhe pela face. Sentiu-se fraco sem ela. Admitiu: "Amo-a tanto.". Mil e uma perguntas passavam pela sua cabeça. Ele só pensava nas coisas que tinha deixado por dizer, nos planos que tinha idealizado, sem lhe dizer nada. O maior desejo dele era ficar com ela, partilhar a mesma casa, a mesma cama, surpreender-lhe todas as manhãs com uma surpresa diferente, e com um beijo na sua cara linda. Mas como? Porque é que ele não lhe contou antes que gostava dela? Chamou-lhe cobardia - pessoalmente chamo-lhe medo, medo de não ser correspondido. Ele voltou a casa dela. Falou com a sua mãe, e soube que ela tinha ido para a casa dos primos dela. Ele contou-lhe que não aguentava sem ela do seu lado, confessou-lhe que sentia um paixão como nunca antes tinha sentido. E pediu ajuda para ele poder ir buscá-la para junto deles. Ele comprou o bilhete para três dias depois. Mas não foi necessário. Após dois dias da compra do bilhete, ela voltou para casa, e procurou-o. Ela pediu desculpas, tantas quanto aquelas que ele pedia. E durante meros segundos olharam-se. E fez-se aquele silêncio que nem o constrangimento incomodava. E surgiu o primeiro dos muitos beijos.

 E se não fosse amor,  que chamaríamos nós a isto?


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