Nunca se deve começar nada assim. Já não sei construir uma frase sem falhar numa palavra, seja ela como for. Já não existe sentido no que digo, porque o que digo não tem sentido simplesmente. Estranhamente, vou conseguindo explicar - ou pelo menos tentando - que não está tudo bem. Falta algo, falta alguém. Estou farta de procurar o nome de quem partiu e me deixou nisto. Existe, mas encontra-se escondido, mas não desisto. Não desisto desta luta, nem desse nome. Ele fazia os meus dias tão fáceis. Os problemas eram resolvidos em conjunto, nunca tive que resolver nada sozinha, tinha-o sempre comigo, do meu lado. Fosse no que fosse, quando fosse, onde fosse, ele estava lá, ele ia ter comigo porque eu precisava dele. E ainda preciso! Os dias tornaram-se escuros depois daquela palavra. Nem coragem tenho para a escrever. É tão forte, e tão complexa. E por mais inofensiva que possa parecer, magoa mais que uma pancada com o dedo mais frágil numa porta. É verdade, aconteceu aquilo que eu e ele temíamos. Lutamos tantos dias juntos, lado a lado, tivemos tantos momentos que eu recordo durante horas, tivémos tantos obstáculos, vimos tantos casais a terminar e nós a ficar de pé, ambos dizíamos que éramos os de mais... Mas, que se passou para deixarmos de ser? Onde ficaram as chamadas à noite? Onde estão as chamadas de madrugada? As mensagens ao longo do dia, para que ele pudesse correr na perfeição? Onde está o meu bebe? 
Parece que desapareceu. E com ele, garanto, que levou tudo o que tínhamos planeado. Não volto atrás no tempo, acho que nunca iria valer de nada. Soube imensas coisas, alterei imenso a minha forma de ver as coisas, e de agir perante elas. Tive que percorrer caminhos que não sabia onde iriam dar, sozinha, sem ele. Portanto acho que não valia de nada fechar os olhos a tanta evolução por um passado que já se fez distante. A sociedade mudou, para pior. E prometeu-me estar aqui se alguma coisa corre-se mal, mas agora não está. Escolhi mal algumas coisas, bati com a cabeça, tornei-me num gelo, mas um gelo frágil, que continua sensível e com medo de cair. Mesmo que tenha amizades ao qual preserve imenso, eu tenho medo. Não me importo de enfrentar as coisas, nem de descobrir coisas más, mas custa não ter quem sempre esteve. 
Hoje em dia, não consigo acreditar que alguém seja capaz de estar a cem por cento. Sei que um dia vai falhar, ou vai desistir por um motivo que não é suficiente para isso, mas mesmo assim desiste! Sei que vou passar mais noites a pensar no que está errado, só porque connosco deu errado. As lágrimas vão-se desprender e vão escorrer pela minha cara. Sei que vou ficar frágil, e quando adoecer vou ficar pior ainda. Mas irei sobreviver. Irei continuar a persistir para sentir menos, ou omitir mais. O meu corpo pode sentir-se fraco, mas será o que me irá sustentar até eu me sentar e dizer que não me irei levantar mais.  

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