Na verdade ela nunca existiu. Os seus olhos desapareceram assim que eu virei as costas e segui com a minha vida. Na verdade ela nunca passou de mais uma para mim. Na verdade eu enganei-a durante este tempo todo. Não sei como consegui, como consegui perder tanto por pouco. Nunca me ocorreu que nada fosse tão forte como ela. Como nós éramos.
É tão tarde quando vemos que fomos fúteis ao ponto de batermos com a cabeça e magoarmos quem mais nos ajudou durante a parte mais feliz da nossa vida. Na verdade a verdade subiu ao cimo desta minha mentira. Sinto-me derrotado. Perdi o jogo, perdi quem me era tudo, perdi-me. Chego agora, agora ao mundo que vejo onde a realidade é mais dura, mais difícil, mais complexa. Chego aqui, aqui ao local onde tudo começou e onde eu nunca fui capaz de deixar de estar.
Dei o pontapé de saída, mas na verdade fui eu que saí. Saí da vida dela, saí do mundo onde passei os melhores momentos da minha vida. Ninguém! Ninguém imagina o quanto me dói o peito de tanto chorar, de tanta dor, dor. Ouvi dizer que o tempo passou, mas passaram cinquenta anos e parece que vivo tudo como se fosse ontem, com a mesma intensidade. O tempo nunca a levou de mim. Nem a ela, nem aos erros que cometi. Nem a minha consciência deixaria que eu não me culpa-se. Eu perdi-a. Perdi-a.
A verdade. A verdade é que eu não a enganei a ela, mas sim a mim mesmo. Julguei-a não ser tão importante para mim, julguei-a ser fútil, julguei-a como qualquer mulher. Julguei-a e isso foi o suficiente para mais um erro no meio de tantos. O meu segundo erro foi tê-la deixado partir. E agora que a vejo com um sorriso, penso de como feliz ela poderia estar comigo. Ou talvez não. Chego a pensar que talvez assim tenha sido melhor. Mas não para mim. E será que isso importa alguma coisa?
Não me canso. Não me canso de lutar, de gritar por ti. Não te deixo. Não te deixo ir do meu coração. Não consigo. Não consigo mais olhar para frente e ver tudo negro, sem ti, sem o teu sorriso, sem o teu olhar. O teu olhar que era meu. Minha linda, linda. Minha princesa, minha princesa. Na verdade já estou velho, velho de mais para andar aqui. Tentei, eu juro que tentei e nunca parei. Chegou aquela hora. A Hora.
Penso que tudo o que aconteceu tenha sido o melhor para ti. Apesar de teres derramado lágrimas por mim, agora sorris. Mas eu não. Não. Não vou ficar mais. Lembro-me de ser jovem e te ter prometido o tal “sempre”. Sempre te disse que seria para sempre. E na verdade, na verdade será para sempre este meu eterno amor. Lembro-me de olhar pela janela e te prometer que te iria proteger sempre. E sei que te prometi que quando te perde-se, a minha vida acabaria.

Espero que me desculpes. E que de uma vez por todas vejas o quanto tu significas para mim. Não sei se serei valorizado algum dia. Não sei se algum dia te irei ver. Mas, mas aconteça o que acontecer, eu vou amar-te sempre. Chegou aquela hora. 


A Hora da verdade.

Comentários