Sem título

Fui pequena. Corri atrás de bolhas de sabão, cai por andar pela primeira vez de bicicleta sem rodas, chorei por cada boneca que desaparecia, sorri de tanta brincadeira que tinha. Fiz amigos. Desde bons e permanentes a maus e ausentes. Aprendi a aceitar. A aceitar uma distância, a deixar amigos e, mais tarde, recuperá-los. A firmeza, a tristeza, o bom e o completo. Vivi sempre na expetativa de ter tudo o que queria. De facto, não me posso queixar, sempre tive tudo. Até amor.
Vivi sempre no mesmo local, com as mesmas coisas e sempre com as mesmas pessoas. Enquanto criança, eu pude percorrer todos os caminhos encantados, pude ir atrás de todas as fantasias que brilhavam perante os meus olhos. Tive tempo de sonhar e realizar. E orgulho-me de tudo. Não tirava nenhuma vírgula, não alterava nenhum pormenor. 
Fui crescendo, a cabeça foi alterando. Há quem diga que trouxe comigo a ingenuidade  Tudo o que perco, recupero, seja bom ou mau. Tudo o que me magoa, eu perdoou. Seja bom ou mau.
Mas.. alguma coisa se alterou... Agora eu vejo tudo diferente. Cresci. Conheci pessoas novas. E perdi algumas do tempo em que tudo era um conto de fadas. Óbvio que tentei recuperar, corri atrás, mas são precisas duas pessoas para que as coisas tornem o mesmo caminho e não caminhos diferentes.
Hoje em dia, eu já sei o que é sofrer. Hoje em dia eu corro atrás de quem não quer saber do que faço, em vez de bolhas de sabão. Caí, não por andar de bicicleta sem rodas, mas sim por perder quem mais gostei. Por acreditar em mentiras. Por viver momentos que eram falsos e que, mais tarde, acabaram. Já chorei, não por bonecas desaparecidas, mas por pessoas sem coração. Por medo, por falta de confiança. Em mim e nos outros. Já chorei por quem não merece uma lágrima. Já chorei, e não me arrependo de o dizer. Mas já chorei. E tanto... Também já sorri, por brincadeiras, por pessoas, por momentos, por meros segundos. Eu sorri.
Continuo com os meus sonhos. E a sorrir, claro! Apenas eles já não têm o mesmo ponto de partida.
Sonhava com um príncipe encantado, uma família perfeita e dois lindos filhos.
Agora, sonho com um homem que me proteja de todo este mundo, que me cure todas as feridas que tenho e irei ter até o encontrar, sonho com uma família com defeitos suficientes para ser completamente perfeita, e dois filhos lindos. 
 Os amigos, os bons e permanentes e os maus e ausentes, guardo-os a todos no coração. Em diferentes gavetas. Mas trago os melhores de mão dada comigo, porque sei que se a abrir eles irão lá estar para me ir buscar onde quer que esteja. E afirmo, porque as provas são o melhor que temos para nunca deixar de acreditar.
Algo mudou em tudo isto, hoje não preciso de quem me faz mal, e antes de me aproximar vejo se vai proteger-me ou magoar-me. Hoje, eu continuo a perdoar quem não merece, mas não esqueço. Hoje, eu tenho objetivos, metas a atingir, e tenho apenas e simplesmente um sonho.
Hoje, eu sinto-me mulher. Não porque alguém o diz, mas sim porque sei que o sou. Uma Mulher! Mas não é pelas palavras dos outros, eu sou mulher porque eu sinto que o sou. Sou mulher sim, já não sou mais aquela criança. 
 Hoje eu quero uma história, não apenas uma boa vida.
Por mim.



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